terça-feira, 24 de agosto de 2010

algumas chaves de ouro de K. Mansfield

"Mas a pereira permanecia adorável, cheia de flores e tão imóvel como sempre."

(do conto Felicidade)

conto completo:
http://www.releituras.com/kmansfield_menu.asp

obs: a tradução do link é diferente da que aqui postei. avaliando pelo fim do texto, prefiro a minha tradução. vale a pena, se pá, ler no original. http://www.eastoftheweb.com/short-stories/UBooks/Blis.shtml

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"_ Não - soluçou Laura - foi simplesmente maravilhoso. Mas, Laurie... - Ela se deteve, e olhou para o irmão. - A vida não é - gaguejou -, a vida não é... - Mas o que a vida era, foi incapaz de explicar. Não importava. Ele compreendeu.

_ Não é mesmo, querida? - disse Laurie."


(do conto A Festa Ao Ar Livre)


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"Estragado sua noite! Estragado o momento deles a sós! Nunca mais teriam momentos a sós, novamente."

(do conto O Estranho)


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"Até o realejo parar de tocar, Constantia ficou de pé diante do Buda, cismando, mas não como usualmente, não vagamente. desta vez sua surpresa foi como um anseio. Ela se lembrou das vezes em que fora até ali, esgueirando-se da cama de camisola, quando havia lua cheia, e se deitara no chão com os braços esticados, como se estivesse crucificada. Por quê? A grande, pálida lua levara-a a fazê-lo. As horríveis figuras dançantes na tela esculpida olharam para ela de soslaio e ela não se incomodou. Ela se lembrou também de como, sempre que estiveram à beira-mar, ela saía sozinha e se aproximava o máximo possível do mar, cantando algo, algo que inventara, enquanto olhava toda aquela extensão de água inquieta. Houve aquela outra vida, saindo apressada, trazendo coisas para casa em sacolas, aprovando coisas, discutindo-as com Jug, e levando-as de volta para trazer mais coisas para serem aprovadas, e arrumando as bandejas de papai e tentando não aborrecê-lo. Mas tudo parecia ter acontecido dentro de uma espécie de tunel. Não era real. Só quando saía do túnel para o luar ou perto do mar ou sob uma tempestade é que realmente se sentia ela mesma. O que significava isso? O que era isso que ela estava sempre querendo? A que levava tudo isso? E agora? E agora?
Ela se afastou do Buda com um dos seus gestos vagos. Dirigiu-se para onde Josephine estava parada, de pé.  Queria dizer uma coisa para Josephine, uma coisa terrivelmente importante, sobre... sobre o futuro e o que...
_Você não acha que talvez... - começou.
Mas Josephine a interrompeu.
_Eu estava me perguntando se agora...- ela murmurou. Detiveram-se; esperaram uma pela outra.
_Prossiga, Con - disse Josephine.
_Não, não, Jug; falo depois - disse Constantia.
_Não, diga o que você ia dizer. Como você - disse Josephine.
_Eu... eu preferia ouvir o que você tinha a dizer primeiro - disse Constantia.
_Não seja absurda, Con.
_Realmente, Jug.
_Connie!
_Oh, Jug!
Uma pausa. Então Constantia disse debilmente:
_Não posso dizer o que ia dizer, Jug, porque esqueci o que era... que ia dizer.
Josephine ficou em silêncio por um momento. Fixou uma grande nuvem onde antes estiveram o sol. Depois respondeu brevemente:
_Eu também esqueci."

(do conto As filhas do Falecido Coronel)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Convite Triste, drummond

Meu amigo, vamos sofrer,
vamos beber, vamos ler jornal,
vamos dizer que a vida é ruim,
meu amigo, vamos sofrer.

Vamos fazer um poema
ou qualquer outra besteira,
Fitar por exemplo uma estrela
por muito tempo, muito tempo
e dar um suspiro fundo
ou qualquer outra besteira.

Vamos beber uísque, vamos
beber cerveja preta e barata,
beber, gritar e morrer,
ou, quem sabe? beber, apenas.

Vamos xingar a mulher,
que está envenenando a vida
com seus olhos e suas mãos
e o corpo que tem dois seios
e tem um embigo também.
Meu amigo, vamos xingar
o corpo e tudo que é dele
e que nunca será alma.

Meu amigo, vamos cantar,
vamos chorar de mansinho
e ouvir muita vitrola,
depois embriagados vamos
beber mais outros seqüestros
(o olhar obsceno e a mão idiota)
depois vomitar e cair
e dormir.

sábado, 7 de agosto de 2010

Eu, de Maiakóvski

Eu

Nas calçadas pisadas
                    de minha alma
  passadas de loucos estalam
calcâneos de frases ásperas
               Onde
                       forcas
                   esganam cidades
e em nós de nuvens coagulam
              pescoços de torres
       oblíquas

  soluçando eu avanço por vias que se encruz-
                                                                 ilham
à vista
de cruci-
fixos

      polícias