que matei
(milhares)
às asas dos besouro
que arranquei, às barbatanas
de tubarão que comi
terei de amar cada mariposa
e mesmo o creme adstringente
culinário que sai de dentro das baratas
espatifadas sob a sola das sandálias?
Sim, terá.
E ainda por cima
voltar vestido de duende
uma glande enorme, condão, tocando
o pelo dos bichos
dizendo alto o nome deles, em sua própria
língua? Elefante sou eu
dromedário, eis aqui o teu irmão?
Terei de voltar
voltar para sempre
apontando o dedo
enumerando o que já é real
sem mim, mas não propriamente
vivo sem mim? Por que amei
assim, se serei punido? Por que não me deixam ir
sem a sombra de um verso
sem abraçar a pele imunda
do que, jacaré, já morreu?
Porque toquei minha carneira com meu dedo
afundei a digital na cona dela
e vi o branco dos seus olhos
entre os cílios, sob a cúpula
cheia de uma luz pesada mas sempre
(sempre)
transparente, como o alto de uma ogiva
gótica
misturado ao interior viscoso de uma jabuticaba
terei de amar o que não é meu, matéria confusa, pelanca
física que tento cantar?
Sim, terá.