Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos –
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos –
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai –
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte –
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
fonte: http://www.releituras.com/viniciusm_natal.asp
domingo, 27 de dezembro de 2015
Chove. É dia de Natal., de Fernando Pessoa
Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal.
E o frio que ainda é pior.
E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.
Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.
Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.
fonte: http://arquivopessoa.net/textos/142
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal.
E o frio que ainda é pior.
E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.
Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.
Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.
fonte: http://arquivopessoa.net/textos/142
Mula de Deus, Hilda Hilst
I
Para fazer sorrir O MAIS FORMOSO
Alta, dourada, me pensei.
Não esta pardacim, o pelo fosco
Pois há de rir-se de mim O PRECIOSO.
Para fazer sorrir O MAIS FORMOSO
Lavei com a língua os cascos
E as feridas. Sanguinolenta e viva
Esta do dorso
A cada dia se abre carmesim.
Se me vires, SENHOR, perdoa ainda.
É raro, em sendo mula, ter a chaga
E ao mesmo tempo
Aparência de limpa partitura
E perfume e frescor de terra arada.
II
Há nojosos olhares sobre mim.
Um rei que passa
E cidadãos do reino, príncipes do efêmero.
Agora é só de dor o flanco trêmulo.
Há nojosos olhares. Rústicos senhores.
Açoites, fardos, vozes, alvoroço.
E há em mim um sentir deleitoso
Um tempo onde fui ave, um outro
Onde fui tenra e haste.
Há alguém que foi luz e escureceu.
E dementado foi humano e cálido.
Há alguém que foi pai. E era meu.
III
Escrituras de pena (diria mais, de pelos)
De infinita tristura, encerrada em si mesma
Quem há de ouvir umas canções de mula?
Até das pedras lhes ouço a desventura.
Até dos porcos lhes ouço o cantochão.
E por que não de ti, poeta-mula?
E ornejos de outras mulas se juntaram aos meus.
Escoiceando os ares, espumando de gozo
Assustando mercado e mercadores
Alegrou-se de mim o coração.
IV
Um dia fui o asno de Apuléius.
Depois fui Lucius, Lucas, fui Roxana.
Fui mãe e meretriz e na Betânia
Toquei o intocado e vi Jeshua.
(Ele tocou-me o ombro aquele Jeshua pálido).
Um tempo fui ninguém: sussurro, hálito.
Alguém passou, diziam? Ninguém, ninguém.
Agora sou escombros de um alguém.
Só caminhada e estio. Carrego fardos
Aves, patos, esses que vão morrer.
Iguais a mim também.
V
Ditoso amor de mula, Te ouvi murmurando
Ó Amoroso! Ditoso amor de mim!
Poder amar a Ti com este corpo nojoso
Este de mim, pulsante de outras vidas
Mas tão triste e batido, tão crespo
De espessura e de feridas.
Ditoso amor de mim! Tão pressuroso
De amar! (E de deitar-se ao pé
De tuas alturas). Corpo acanhado de mula
Este de mim, mas tão festivo e doce
Neste Agora
Porque banhado de ti, ó FORMOSURA.
VI
Tu que me vês
Guarda de mim o olhar.
Guarda-me o flanco.
Há de custar tão pouco
Guardar o nada
E seus resíduos ocos.
Orelhas, ventas
O passo apressado sob o jugo
Casco, subidas
Isso é tudo de mim
Mas é tão pouco...
Tu que me vês
Guarda de mim, apenas
Minha demasiada coitadez.
VII
Que eu morra junto ao rio.
O caudaloso frescor das águas claras
Sobre o pelo e as chagas.
Que eu morra olhando os céus:
Mula que sou, esse impossível
Posso pedir a Deus. E entendendo nada
Como os homens da Terra
Como as mulas de Deus.
VIII
Palha
Trapos
Uma só vez o musgo das fontes
O indizível casqueando o nada
Essa sou eu.
Poeta e mula
(Aunque pueda parecer
Que del poeta es locura).
§
("Estar sendo. Ter sido", São Paulo: Nankin, 1997)
via: https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=1190005114361169&id=165781520116872&substory_index=0
Para fazer sorrir O MAIS FORMOSO
Alta, dourada, me pensei.
Não esta pardacim, o pelo fosco
Pois há de rir-se de mim O PRECIOSO.
Para fazer sorrir O MAIS FORMOSO
Lavei com a língua os cascos
E as feridas. Sanguinolenta e viva
Esta do dorso
A cada dia se abre carmesim.
Se me vires, SENHOR, perdoa ainda.
É raro, em sendo mula, ter a chaga
E ao mesmo tempo
Aparência de limpa partitura
E perfume e frescor de terra arada.
II
Há nojosos olhares sobre mim.
Um rei que passa
E cidadãos do reino, príncipes do efêmero.
Agora é só de dor o flanco trêmulo.
Há nojosos olhares. Rústicos senhores.
Açoites, fardos, vozes, alvoroço.
E há em mim um sentir deleitoso
Um tempo onde fui ave, um outro
Onde fui tenra e haste.
Há alguém que foi luz e escureceu.
E dementado foi humano e cálido.
Há alguém que foi pai. E era meu.
III
Escrituras de pena (diria mais, de pelos)
De infinita tristura, encerrada em si mesma
Quem há de ouvir umas canções de mula?
Até das pedras lhes ouço a desventura.
Até dos porcos lhes ouço o cantochão.
E por que não de ti, poeta-mula?
E ornejos de outras mulas se juntaram aos meus.
Escoiceando os ares, espumando de gozo
Assustando mercado e mercadores
Alegrou-se de mim o coração.
IV
Um dia fui o asno de Apuléius.
Depois fui Lucius, Lucas, fui Roxana.
Fui mãe e meretriz e na Betânia
Toquei o intocado e vi Jeshua.
(Ele tocou-me o ombro aquele Jeshua pálido).
Um tempo fui ninguém: sussurro, hálito.
Alguém passou, diziam? Ninguém, ninguém.
Agora sou escombros de um alguém.
Só caminhada e estio. Carrego fardos
Aves, patos, esses que vão morrer.
Iguais a mim também.
V
Ditoso amor de mula, Te ouvi murmurando
Ó Amoroso! Ditoso amor de mim!
Poder amar a Ti com este corpo nojoso
Este de mim, pulsante de outras vidas
Mas tão triste e batido, tão crespo
De espessura e de feridas.
Ditoso amor de mim! Tão pressuroso
De amar! (E de deitar-se ao pé
De tuas alturas). Corpo acanhado de mula
Este de mim, mas tão festivo e doce
Neste Agora
Porque banhado de ti, ó FORMOSURA.
VI
Tu que me vês
Guarda de mim o olhar.
Guarda-me o flanco.
Há de custar tão pouco
Guardar o nada
E seus resíduos ocos.
Orelhas, ventas
O passo apressado sob o jugo
Casco, subidas
Isso é tudo de mim
Mas é tão pouco...
Tu que me vês
Guarda de mim, apenas
Minha demasiada coitadez.
VII
Que eu morra junto ao rio.
O caudaloso frescor das águas claras
Sobre o pelo e as chagas.
Que eu morra olhando os céus:
Mula que sou, esse impossível
Posso pedir a Deus. E entendendo nada
Como os homens da Terra
Como as mulas de Deus.
VIII
Palha
Trapos
Uma só vez o musgo das fontes
O indizível casqueando o nada
Essa sou eu.
Poeta e mula
(Aunque pueda parecer
Que del poeta es locura).
§
("Estar sendo. Ter sido", São Paulo: Nankin, 1997)
via: https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=1190005114361169&id=165781520116872&substory_index=0
quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
"Visão de São Paulo à noite", Roberto Piva
Na esquina da rua São Luís uma procissão de mil pessoas
acende velas no meu crânio
há místicos falando bobagens ao coração das viúvas
e um silêncio de estrela partindo em vagão de luxo
fogo azul de gim e tapete colorindo a noite, amantes
chupando-se como raízes
Maldoror em taças de maré alta
na rua São Luís o meu coração mastiga um trecho da minha vida
a cidade com chaminés crescendo, anjos engraxates com sua gíria
feroz na plena alegria das praças, meninas esfarrapadas
definitivamente fantásticas
há uma floresta de cobras verdes nos olhos do meu amigo
a lua não se apóia em nada
eu não me apóio em nada
sou ponte de granito sobre rodas de garagens subalternas
teorias simples fervem minha mente enlouquecida
há bancos verdes aplicados no corpo das praças
há um sino que não toca
há anjos de Rilke dando o cu nos mictórios
reino-vertigem glorificado
espectros vibrando espasmos
beijos ecoando numa abóbada de reflexos
torneiras tossindo, locomotivas uivando, adolescentes roucos
enlouquecidos na primeira infância
os malandros jogam ioiô na porta do Abismo
eu vejo Brama sentado em flor de lótus
Cristo roubando a caixa dos milagres
Chet Baker ganindo na vitrola
eu sinto o choque de todos os fios saindo pelas portas
partidas do meu cérebro
eu vejo putos putas patacos torres chumbo chapas chopes
vitrinas homens mulheres pederastas e crianças cruzam-se e
abrem-se em mim como lua gás rua árvores lua medrosos repuxos
colisão na ponte cego dormindo na vitrina do horror
disparo-me como uma tômbola
a cabeça afundando-me na garganta
chove sobre mim a minha vida inteira, sufoco ardo flutuo-me
nas tripas, meu amor, eu carrego teu grito como um tesouro afundado
quisera derramar sobre ti todo meu epiciclo de centopéias libertas
ânsia fúria de janelas olhos bocas abertas, torvelins de vergonha,
correias de maconha em piqueniques flutuantes
vespas passeando em voltas das minhas ânsias
meninos abandonados nus nas esquinas
angélicos vagabundos gritando entre as lojas e os templos
entre a solidão e o sangue, entre as colisões, o parto
e o Estrondo
via: https://www.facebook.com/165781520116872/photos/a.172076606154030.41436.165781520116872/1190237134337967/?type=3
acende velas no meu crânio
há místicos falando bobagens ao coração das viúvas
e um silêncio de estrela partindo em vagão de luxo
fogo azul de gim e tapete colorindo a noite, amantes
chupando-se como raízes
Maldoror em taças de maré alta
na rua São Luís o meu coração mastiga um trecho da minha vida
a cidade com chaminés crescendo, anjos engraxates com sua gíria
feroz na plena alegria das praças, meninas esfarrapadas
definitivamente fantásticas
há uma floresta de cobras verdes nos olhos do meu amigo
a lua não se apóia em nada
eu não me apóio em nada
sou ponte de granito sobre rodas de garagens subalternas
teorias simples fervem minha mente enlouquecida
há bancos verdes aplicados no corpo das praças
há um sino que não toca
há anjos de Rilke dando o cu nos mictórios
reino-vertigem glorificado
espectros vibrando espasmos
beijos ecoando numa abóbada de reflexos
torneiras tossindo, locomotivas uivando, adolescentes roucos
enlouquecidos na primeira infância
os malandros jogam ioiô na porta do Abismo
eu vejo Brama sentado em flor de lótus
Cristo roubando a caixa dos milagres
Chet Baker ganindo na vitrola
eu sinto o choque de todos os fios saindo pelas portas
partidas do meu cérebro
eu vejo putos putas patacos torres chumbo chapas chopes
vitrinas homens mulheres pederastas e crianças cruzam-se e
abrem-se em mim como lua gás rua árvores lua medrosos repuxos
colisão na ponte cego dormindo na vitrina do horror
disparo-me como uma tômbola
a cabeça afundando-me na garganta
chove sobre mim a minha vida inteira, sufoco ardo flutuo-me
nas tripas, meu amor, eu carrego teu grito como um tesouro afundado
quisera derramar sobre ti todo meu epiciclo de centopéias libertas
ânsia fúria de janelas olhos bocas abertas, torvelins de vergonha,
correias de maconha em piqueniques flutuantes
vespas passeando em voltas das minhas ânsias
meninos abandonados nus nas esquinas
angélicos vagabundos gritando entre as lojas e os templos
entre a solidão e o sangue, entre as colisões, o parto
e o Estrondo
via: https://www.facebook.com/165781520116872/photos/a.172076606154030.41436.165781520116872/1190237134337967/?type=3
trecho de Cem Anos de Solidão, Gabriel García Márquez
"- Ah! - disse - então o senhor também não acredita.
- Em quê?
- Que o Coronel Aureliano Buendía fez trinta e duas guerras civis e perdeu todas - respondeu Aureliano - Que o exército encurralou e metralhou três mil trabalhadores e que levou os cadáveres para jogá-los no mar num trem de duzentos vagões.
O pároco mediu-o com um olhar de pena.
- Ai, filho - suspirou. - Para mim bastaria estar certo de que você e eu existimos nesse momento."
- Em quê?
- Que o Coronel Aureliano Buendía fez trinta e duas guerras civis e perdeu todas - respondeu Aureliano - Que o exército encurralou e metralhou três mil trabalhadores e que levou os cadáveres para jogá-los no mar num trem de duzentos vagões.
O pároco mediu-o com um olhar de pena.
- Ai, filho - suspirou. - Para mim bastaria estar certo de que você e eu existimos nesse momento."
domingo, 20 de dezembro de 2015
Edvard Munch disse
From my rotting body, flowers shall grow and I am in them and that is eternity.
via: https://www.facebook.com/berlinartparasites/photos/a.241035489279718.52064.199504240099510/914858205230773/?type=3&theater
via: https://www.facebook.com/berlinartparasites/photos/a.241035489279718.52064.199504240099510/914858205230773/?type=3&theater
Hay Cosas, Federico García Lorca
Hay cosas encerradas dentro de los muros que, si salieran de pronto a la calle y gritaran, llenarían el mundo.
via: https://www.facebook.com/inkultmagazine/posts/1040876055954658
via: https://www.facebook.com/inkultmagazine/posts/1040876055954658
quarta-feira, 2 de dezembro de 2015
O Pássaro Azul, de Charles Bukowski, tradução de Lucas Nicolato
o pássaro azul
há um pássaro azul no meu peito que
quer sair
mas eu sou duro demais pra ele
eu digo, fica aí, não vou
deixar ninguém te
ver
há um pássaro azul no meu peito que
quer sair
mas eu meto uísque nele e dou um
trago no meu cigarro
e as putas e os garçons
e os balconistas dos mercados
nunca percebem que
ele está
aqui dentro
há um pássaro azul no meu peito que
quer sair
mas eu sou duro demais pra ele
eu digo,
fica quieto, você quer zoar
comigo?
quer ferrar com meu
trabalho?
quer acabar com a venda dos meus livros na
Europa?
há um pássaro azul no meu peito que
quer sair
mas eu sou esperto demais, só o deixo sair
à noite, às vezes
enquanto todo mundo está dormindo
eu digo, eu sei que você está aí
não fique
chateado
então o ponho de volta
mas ele canta um pouco
aqui dentro, não o deixei realmente
morrer
e dormimos juntos
assim
no nosso
pacto secreto
e isso é o bastante pra
fazer um homem
chorar, mas eu não
choro, você
chora?
the bluebird
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say, stay in there, I'm not going
to let anybody see
you.
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I pur whiskey on him and inhale
cigarette smoke
and the whores and the bartenders
and the grocery clerks
never know that
he's
in there.
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say,
stay down, do you want to mess
me up?
you want to screw up the
works?
you want to blow my book sales in
Europe?
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too clever, I only let him out
at night sometimes
when everybody's asleep.
I say, I know that you're there,
so don't be
sad.
then I put him back,
but he's singing a little
in there, I haven't quite let him
die
and we sleep together like
that
with our
secret pact
and it's nice enough to
make a man
weep, but I don't
weep, do
you?
em: http://lucasnicolato.blogspot.com.br/2008/07/charles-bukowski-o-pssaro-azul.html
há um pássaro azul no meu peito que
quer sair
mas eu sou duro demais pra ele
eu digo, fica aí, não vou
deixar ninguém te
ver
há um pássaro azul no meu peito que
quer sair
mas eu meto uísque nele e dou um
trago no meu cigarro
e as putas e os garçons
e os balconistas dos mercados
nunca percebem que
ele está
aqui dentro
há um pássaro azul no meu peito que
quer sair
mas eu sou duro demais pra ele
eu digo,
fica quieto, você quer zoar
comigo?
quer ferrar com meu
trabalho?
quer acabar com a venda dos meus livros na
Europa?
há um pássaro azul no meu peito que
quer sair
mas eu sou esperto demais, só o deixo sair
à noite, às vezes
enquanto todo mundo está dormindo
eu digo, eu sei que você está aí
não fique
chateado
então o ponho de volta
mas ele canta um pouco
aqui dentro, não o deixei realmente
morrer
e dormimos juntos
assim
no nosso
pacto secreto
e isso é o bastante pra
fazer um homem
chorar, mas eu não
choro, você
chora?
the bluebird
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say, stay in there, I'm not going
to let anybody see
you.
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I pur whiskey on him and inhale
cigarette smoke
and the whores and the bartenders
and the grocery clerks
never know that
he's
in there.
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say,
stay down, do you want to mess
me up?
you want to screw up the
works?
you want to blow my book sales in
Europe?
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too clever, I only let him out
at night sometimes
when everybody's asleep.
I say, I know that you're there,
so don't be
sad.
then I put him back,
but he's singing a little
in there, I haven't quite let him
die
and we sleep together like
that
with our
secret pact
and it's nice enough to
make a man
weep, but I don't
weep, do
you?
em: http://lucasnicolato.blogspot.com.br/2008/07/charles-bukowski-o-pssaro-azul.html
quarta-feira, 28 de outubro de 2015
trecho de "Os Frutos da Terra", de André Gide
Erguei-vos frontes inclinadas! Olhares voltados para os túmulos, erguei-vos. Não para o céu vazio, mas para o horizonte da terra. Para onde te conduzirão teus passos, Camarada, regenerado, valente, disposto a sair desses lugares empestados pelos mortos; deixa tua Esperança transportar-te para a frente. Não permitas que nenhum amor ao passado te retenha... Lança-te para o Futuro! A poesia, cessa de transferí-la para o sonho; saibas vê-la na realidade. E se não estiver nela ainda, coloca-a lá!
extraído da publicação revista Encontro Teatro nº 2, editada pelo Grupo Sonhus Teatro Ritual, Goiânia - GO.
outros excertos: http://jardimdeepicuro-apollonivs.blogspot.com.br/2011/02/andre-gide-os-frutos-da-terra.html
extraído da publicação revista Encontro Teatro nº 2, editada pelo Grupo Sonhus Teatro Ritual, Goiânia - GO.
outros excertos: http://jardimdeepicuro-apollonivs.blogspot.com.br/2011/02/andre-gide-os-frutos-da-terra.html
domingo, 27 de setembro de 2015
Susana Thénon (Buenos Aires, 1935 - 1991), dois poemas
isso que se chamava aquilo
agora é "isto"
aliás "algo"
aliás "a coisa"
e no lapso que vai da segunda linha à anterior
trocou-se o mesmo pelo mesmo
e "isto" continua com mais
com peróxido
agora é "isto"
aliás "algo"
aliás "a coisa"
e no lapso que vai da segunda linha à anterior
trocou-se o mesmo pelo mesmo
e "isto" continua com mais
com peróxido
um monte ululante de não sei o quê
se juntou
na frente da igreja
isso que se chamava aquilo
agora é "isto"
e no fim era o Nome
***
bem
estou morta
e quero me divertir
vamos
onde está tudo?
não tem ninguém?
sim
sim
passa um brilho pela janela
estou do lado de fora
você do lado de dentro
brinca com o espelho
me tapa um olho com sol
bem feito
porque estou morta
e quero me divertir
já posso entrar?
ainda não?
que espere?
como antes?
um pouco mais?
como antes
os espelhos
o sol
eu do lado de fora
você do lado de dentro
não ainda?
via: facebook
se juntou
na frente da igreja
isso que se chamava aquilo
agora é "isto"
e no fim era o Nome
***
bem
estou morta
e quero me divertir
vamos
onde está tudo?
não tem ninguém?
sim
sim
passa um brilho pela janela
estou do lado de fora
você do lado de dentro
brinca com o espelho
me tapa um olho com sol
bem feito
porque estou morta
e quero me divertir
já posso entrar?
ainda não?
que espere?
como antes?
um pouco mais?
como antes
os espelhos
o sol
eu do lado de fora
você do lado de dentro
não ainda?
via: facebook
terça-feira, 25 de agosto de 2015
A Flauta Vértebra, de Maiakóvski
A todos vocês,
que eu amei e que eu amo,
ícones guardados num coração-caverna,
como quem num banquete ergue a taça e celebra,
repleto de versos levanto meu crânio.
Penso, mais de uma vez:
seria melhor talvez
pôr-me o ponto final de um balaço.
Em todo caso
eu
hoje vou dar meu concerto de adeus.
Memória!
Convoca aos salões do cérebro
um renque inumerável de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,
veste a noite de núpcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria.
esta noite ficará na História.
Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras.
Via Maurício. Pelo whatsapp.
que eu amei e que eu amo,
ícones guardados num coração-caverna,
como quem num banquete ergue a taça e celebra,
repleto de versos levanto meu crânio.
Penso, mais de uma vez:
seria melhor talvez
pôr-me o ponto final de um balaço.
Em todo caso
eu
hoje vou dar meu concerto de adeus.
Memória!
Convoca aos salões do cérebro
um renque inumerável de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,
veste a noite de núpcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria.
esta noite ficará na História.
Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras.
Via Maurício. Pelo whatsapp.
sexta-feira, 31 de julho de 2015
algumas poesias de Patrizia Cavalli
§
Se você batesse agora à minha porta
e tirasse os seus óculos
e eu tirasse os meus que são iguais
e então você entrasse na minha boca
sem temer beijos desiguais
e me dissesse: "Meu bem,
mas o que aconteceu?", seria a peça
um acontecimento teatral.
§
Quantas tentações atravesso
no percurso entre o quarto
e a cozinha, entre a cozinha
e o banheiro. Uma mancha
na parede, um pedaço de papel
caído no chão, um copo d´água,
um olhar pela janela,
oi para a vizinha,
um cafuné na gata.
Assim esqueço-me sempre
da ideia principal, me perco
no caminho, me quebro
dia após dia e é inútil
tentar qualquer volta.
via: http://revistamododeusar.blogspot.de/2014/02/patrizia-cavalli.html
traduzido por Ricardo Domeneck
Se você batesse agora à minha porta
e tirasse os seus óculos
e eu tirasse os meus que são iguais
e então você entrasse na minha boca
sem temer beijos desiguais
e me dissesse: "Meu bem,
mas o que aconteceu?", seria a peça
um acontecimento teatral.
§
Quantas tentações atravesso
no percurso entre o quarto
e a cozinha, entre a cozinha
e o banheiro. Uma mancha
na parede, um pedaço de papel
caído no chão, um copo d´água,
um olhar pela janela,
oi para a vizinha,
um cafuné na gata.
Assim esqueço-me sempre
da ideia principal, me perco
no caminho, me quebro
dia após dia e é inútil
tentar qualquer volta.
via: http://revistamododeusar.blogspot.de/2014/02/patrizia-cavalli.html
traduzido por Ricardo Domeneck
quarta-feira, 10 de junho de 2015
Poema Abraço, de Murilo Mendes
Sim: letra e nuvem
lutam com os sonhos
Pela posse do poema.
O sino da tempestade
Convida a criação às núpcias,
O véu da ternura desce
Sobre a carne inconformada.
A página aberta do livro
Mostra a inicial de Altair.
Responde o clarim augusto:
_Vestida de água e céu
Voas acima do tempo.
No espelho do futuro
Te assisto refletida.
Serás tu mesma? Ou sou eu.
lutam com os sonhos
Pela posse do poema.
O sino da tempestade
Convida a criação às núpcias,
O véu da ternura desce
Sobre a carne inconformada.
A página aberta do livro
Mostra a inicial de Altair.
Responde o clarim augusto:
_Vestida de água e céu
Voas acima do tempo.
No espelho do futuro
Te assisto refletida.
Serás tu mesma? Ou sou eu.
quarta-feira, 3 de junho de 2015
michel serres
Aí, começa, verdadeiramente, a história. Como dois labirintos tão complicados podem se encontrar, se sobrepor, se complementar? Ariadne se perde no Teseu. Teseu não se encontra nas avenidas e entroncamentos traçados no monte de Ariadne. Seria preciso conceber a relação de duas espécies, dois gêneros, dois reinos, tigre e pavão, zebra e jaguar, joaninha e papoula, centopéia e calcedônia, um camaleão em mármore. Acontecem milagres, alguns tigres ou tiglões sobrevivem a duras penas. Ou melhor, é preciso que Ariadne se torne branca, que Teseu reenrole em sua roca todos os fios que embaraçam e dividem o corpo multicor de Ariadne. Nossa alma de superfície, salvo milagre, cria obstáculo a nossos amores, como se tivéssemos uma couraça de tatuagens. É preciso depor a couraça, fundir os mapas dos caminhos e das encruzilhadas, descobrir a alma ou fazê-la arder de outra maneira, para que as chamas se misturem. Quando a alma entra em um órgão, ele adquire consciência e a perde. Se o dedo toca o lábio e se diz eu, a boca torna-se objeto, mas na verdade o dedo se perde [...] A alma, como poças, forma a tatuagem, o conjunto dessas linhas cruzadas desenha um campo de forças: o espaço da pressão extraordinária da alma para apagar docemente as sombras do corpo, e os recursos máximos do corpo para resistir a esse esforço. Na pele, a alma e o objeto se avizinham, avançam, ganham ou perdem terreno, mistura demorada e vaporosa do eu e do corpo negro, de onde sai, em um dado momento, a cauda de pavão de cores misturadas. A luta termina com o corpo místico branco de alabastro. Não sou mais nada. Ou com o corpo cibernético, caixa-preta, outro nada. A transfiguração extática, perda do corpo na alma, retira a tatuagem. O descascamento obtido, o autômato perfeito também a retiram da caixa-preta total. Assim, o corpo misturado, encontra-se no meio, entre o céu e o inferno: no espaço cotidiano.
fonte: http://bdtd.bce.unb.br/tedesimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=6099 pg 113
fonte: http://bdtd.bce.unb.br/tedesimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=6099 pg 113
terça-feira, 26 de maio de 2015
Stela do Patrocínio, em diagramação de sua fala por Viviane Mosé
Não sou eu que gosto de nascer
Eles é que me botam para nascer todo dia
E sempre que eu morro me ressuscitam
Me encarnam me desencarnam me reencarnam
Me formam em menos de um segundo
Se eu sumir desaparecer eles me procuram onde eu estiver
Pra estar olhando pro gás pras paredes pro teto
Ou pra cabeça deles e pro corpo deles
fonte: http://revistamododeusar.blogspot.de/2013/05/stela-do-patrocinio-1941-1997.html
Eles é que me botam para nascer todo dia
E sempre que eu morro me ressuscitam
Me encarnam me desencarnam me reencarnam
Me formam em menos de um segundo
Se eu sumir desaparecer eles me procuram onde eu estiver
Pra estar olhando pro gás pras paredes pro teto
Ou pra cabeça deles e pro corpo deles
fonte: http://revistamododeusar.blogspot.de/2013/05/stela-do-patrocinio-1941-1997.html
sexta-feira, 15 de maio de 2015
Beasts Bounding Through Time, por Charles Bukowski
Van Gogh writing his brother for paints
Hemingway testing his shotgun
Celine going broke as a doctor of medicine
the impossibility of being human
Villon expelled from Paris for being a thief
Faulkner drunk in the gutters of his town
the impossibility of being human
Burroughs killing his wife with a gun
Mailer stabbing his
the impossibility of being human
Maupassant going mad in a rowboat
Dostoyevsky lined up against a wall to be shot
Crane off the back of a boat into the propeller
the impossibility
Sylvia with her head in the oven like a baked potato
Harry Crosby leaping into that Black Sun
Lorca murdered in the road by Spanish troops
the impossibility
Artaud sitting on a madhouse bench
Chatterton drinking rat poison
Shakespeare a plagiarist
Beethoven with a horn stuck into his head against deafness
the impossibility the impossibility
Nietzsche gone totally mad
the impossibility of being human
all too human
this breathing
in and out
out and in
these punks
these cowards
these champions
these mad dogs of glory
moving this little bit of light toward us
impossibly.
fonte: http://allpoetry.com/poem/10257717-Beasts-Bounding-Through-Time-by-Charles-Bukowski
Hemingway testing his shotgun
Celine going broke as a doctor of medicine
the impossibility of being human
Villon expelled from Paris for being a thief
Faulkner drunk in the gutters of his town
the impossibility of being human
Burroughs killing his wife with a gun
Mailer stabbing his
the impossibility of being human
Maupassant going mad in a rowboat
Dostoyevsky lined up against a wall to be shot
Crane off the back of a boat into the propeller
the impossibility
Sylvia with her head in the oven like a baked potato
Harry Crosby leaping into that Black Sun
Lorca murdered in the road by Spanish troops
the impossibility
Artaud sitting on a madhouse bench
Chatterton drinking rat poison
Shakespeare a plagiarist
Beethoven with a horn stuck into his head against deafness
the impossibility the impossibility
Nietzsche gone totally mad
the impossibility of being human
all too human
this breathing
in and out
out and in
these punks
these cowards
these champions
these mad dogs of glory
moving this little bit of light toward us
impossibly.
fonte: http://allpoetry.com/poem/10257717-Beasts-Bounding-Through-Time-by-Charles-Bukowski
quarta-feira, 6 de maio de 2015
Um Lance de Dados, Stéphane Mallarmé, traduzido por Armando Silva Carvalho
JAMAIS
MESMO ATIRADO EM CIRCUNSTÂNCIAS ETERNAS
DO FUNDO DUM NAUFRÁGIO
PORQUE
o Abismo
Branco
se expõe
furioso
sob uma inclinação
desesperadamente plana
d’ asa
a sua
recaída prévia dum mal de se erguer no voo
cobrindo os impulsos
cortando rente os ímpetos
no âmago se resume
a sombra que se afunda nas profundas nessa alternativa vela
para adaptar
a tal envergadura
as suas horríveis profundas como o arcaboiço
duma construção
que balança dum lado
para o outro
O MESTRE
emerge
inferindo
dessa conflagração
que se
como uma ameaça
o único Número que não pode
hesita
cadáver descartado
em lugar
de jogar
como um velho maníaco
a partida
em nome das marés
um
naufrágio assim
livre dos antigos cálculos
esquecido o manobrar com a idade
outrora ele empunhava o leme
a seus pés
num horizonte unânime
prepara
se agita e se envolve
no punho que o ligará
ao destino dos ventos
ser um outro
Espírito
para o Lançar
na tempestade
e redobrar a divisão e passar altivo
pelo braço do segredo que encerra
invadiu o comandante
correndo pela barba submersa
vindo do homem
sem nau
insignificante
onde será vão
ancestralmente abrir ou não a mão
crispada
além duma cabeça inútil
legada em desaparição
a alguém ambíguo
imemorial ulterior demónio
nos seus lugares do nada
induz
o ancião a essa conjunção suprema com a probabilidade
o tal
da sombra pueril
acariciada e polida aparada e lavada
amaciada pela onda e afastada
dos ossos duros perdidos em bocejos
nascido
dum descuido
jogando o mar por antepassado ou o antepassado contra
o mar
numa sorte ociosa
São núpcias
da qual a ilusão é uma vela solta obcecada
com o fantasma dum gesto
que oscila até cair
na loucura
NÃO ABOLIRÁ
TAL COMO
Uma insinuação
ao silêncio
em algo próximo
esvoaça
simples
envolta em ironia
ou
precipitado
uivado
mistério
dum turbilhão hilariante e horrível
em redor do abismo
sem nele se fixar
nem fugir
a embalar todo o indício virgem
TAL COMO
perdida solitária pena
Salvo
quando o encontro ou o aflorar do toque
da meia-noite a deixa
imóvel
no veludo amarrotado por um riso sombrio
essa brancura rígida
irrisória
que se opõe ao céu
demasiado
para que não deixe marcas
exíguas
em qualquer
amargo príncipe de escolhos
e que disso se enfeita como de irresistível
heroísmo que sabe contido
pela sua curta e viril razão
em cólera
inquieto
expiatório e púbere
calado
A lúcida e senhorial crista
na fonte invisível
cintila
e depois sombreia
uma estatura gentil e tenebrosa
na sua torção de sereia
através de impacientes escamas
Riso
que
Se
de vertigem
de pé
o tempo
de esbofetear
bifurcadas
numa rocha
falsa mansão
evaporada na bruma
que impôs
fronteiras ao infinito
ERA
de origem estelar
Ou SERIA
pior
nem mais
nem menos
indiferentemente
mas tanto
O NÚMERO
SE EXISTISSE
diverso da alucinação esparsa da agonia
COMECASSE OU FINDASSE
ensucedor e não negado e preso quando aparecesse
enfim
através duma profusão ampliada e rara
SE CONTASSE
Como evidência da soma pouca uma
SE ILUMINASSE
O ACASO
Cai
a pena
rítmica suspensa do sinistro
para se afundar
na espuma original
recente onde explode o delírio até ao cimo
desvanecido
pela neutralidade idêntica do abismo
NADA
da memorável crise
em que teve lugar
o acontecimento
havido em vista de qualquer
resultado nulo
humano
TERÁ TIDO LUGAR
uma simples ascensão na direcção
da ausência
SENÃO O LUGAR
inferior marulhar como
para dispersar um acto vazio
abruptamente
e
através da mentira
decidir
a sua perdição
nestas paragens
do vago
em que toda a realidade se dissolve
EXCEPTO
a altitude
TALVEZ
tão longe como
o lugar
que com o além se funde
longe do interesse
que em geral se lhe assinala
segundo esta obliquidade ou aquela
delectividade
de fogos
para esse lugar que deve ser
o Setentrião também chamado Norte
UMA CONSTELAÇÃO
arrefece no olvido e no desuso
mesmo que ela enumere
em qualquer vaga e superior superfície
o choque sideral e sucessivo
do cálculo total em formação
velando
duvidando
brilhando e meditando
antes de se deter
em qualquer ponto derradeiro que o sagra
Todo o Pensamento produz um Lance de Dados
fonte: http://www.revistapunkto.com/2011/01/re-reading-um-lance-de-dados-mallarme_8423.html
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