Quero beber! Cantar asneiras
No esto brutal das bebedeiras
Que tudo emborca e faz em caco…
Evoé Baco!
Lá se me parte a alma levada
No torvelim da mascarada,
A gargalhar em douro assomo…
Evoé Momo!
Lacem-na toda, multicores,
As serpentinas dos amores,
Cobras de lívidos venenos…
Evoé Vênus!
Se perguntarem: Que mais queres,
além de versos e mulheres?
– Vinhos!… o vinho que é o meu fraco!…
Evoé Baco!
O alfange rútilo da lua,
Por degolar a nuca nua
Que me alucina e que não domo!…
Evoé Momo!
A Lira etérea, a grande Lira!…
Por que eu extático desfira
Em seu louvor versos obscenos,
Evoé Vênus!
quinta-feira, 23 de março de 2017
Sétimo Céu, de Patti Smith
Ó Rafael. Anjo guardião. No amor e no crime
todas as coisas movem-se em setes. sete compartimentos
no coração. as sete elaboradas tentações.
sete demônios lançados sobre Maria Madalena prostituta
de Cristo. as sete maravilhosas viagens de Sinbad.
sin/bad*. E o número sete marcado para sempre
na fronte de Caim. O primeiro homem inspirado.
O pai do desejo e assassinato. Mas o dele não foi
o primeiro êxtase. Considere a mãe dele.
Eva praticou o crime da curiosidade. É como o ditado
diz: matou pela buceta. Uma maçã ruim estragou
o tiro inteiro. Mas tenha certeza que não foi a maçã.
Uma maçã parece com uma bunda. É a fruta dos maricas.
Deve de ter sido um tomate.
Ou melhor ainda. Uma manga.
Ela mordeu. Temos que culpa-la. abusar dela.
pobre doce puta. talvez haja mais para a história.
pense em Satã como algum garanhão.
talvez seus joelhos estivessem abertos.
cobras de satã no meio delas.
elas abrem mais.
cobras em suas coxas
esfregando-se contra ela por um tempo
mais do que a árvore do conhecimento era sobre
ser comido… ela estremece seu primeiro estremecimento
prazer jardim do prazer
ela estava arrependida
somos sempre meninas
ela era uma boa leiga
só deus sabe
(in: http://guarita.tumblr.com/post/158600171470/uma-seleta-dos-primeiros-poemas-da-patti-smith)
todas as coisas movem-se em setes. sete compartimentos
no coração. as sete elaboradas tentações.
sete demônios lançados sobre Maria Madalena prostituta
de Cristo. as sete maravilhosas viagens de Sinbad.
sin/bad*. E o número sete marcado para sempre
na fronte de Caim. O primeiro homem inspirado.
O pai do desejo e assassinato. Mas o dele não foi
o primeiro êxtase. Considere a mãe dele.
Eva praticou o crime da curiosidade. É como o ditado
diz: matou pela buceta. Uma maçã ruim estragou
o tiro inteiro. Mas tenha certeza que não foi a maçã.
Uma maçã parece com uma bunda. É a fruta dos maricas.
Deve de ter sido um tomate.
Ou melhor ainda. Uma manga.
Ela mordeu. Temos que culpa-la. abusar dela.
pobre doce puta. talvez haja mais para a história.
pense em Satã como algum garanhão.
talvez seus joelhos estivessem abertos.
cobras de satã no meio delas.
elas abrem mais.
cobras em suas coxas
esfregando-se contra ela por um tempo
mais do que a árvore do conhecimento era sobre
ser comido… ela estremece seu primeiro estremecimento
prazer jardim do prazer
ela estava arrependida
somos sempre meninas
ela era uma boa leiga
só deus sabe
(in: http://guarita.tumblr.com/post/158600171470/uma-seleta-dos-primeiros-poemas-da-patti-smith)
quarta-feira, 22 de março de 2017
Ofício de amar, de Al Berto
já não necessito de ti
tenho a companhia nocturna de animais e a peste
tenho o grão doente das cidades erguidas no princípio doutras galáxias, e o remorso
um dia pressenti a música estelar das pedras, abandonei-me ao silêncio
é lentíssimo este amor progredindo com o bater do coração
não, não preciso mais de mim
possuo a doença dos espaços incomensuráveis
e os secretos poços dos nómadas
ascendo ao conhecimento pleno do meu deserto
deixei de estar disponível, perdoa-me
se cultivo regularmente a saudade de meu próprio corpo
tenho a companhia nocturna de animais e a peste
tenho o grão doente das cidades erguidas no princípio doutras galáxias, e o remorso
um dia pressenti a música estelar das pedras, abandonei-me ao silêncio
é lentíssimo este amor progredindo com o bater do coração
não, não preciso mais de mim
possuo a doença dos espaços incomensuráveis
e os secretos poços dos nómadas
ascendo ao conhecimento pleno do meu deserto
deixei de estar disponível, perdoa-me
se cultivo regularmente a saudade de meu próprio corpo
Uma flor num buraco da calçada, de Henrique do Valle
quando soltaram os cachorros loucos
eu estava fazendo chá
de ervas do campo
e de repente o espanto
tremendo a chaleira
e bombeando medo
larguei as ervas e danado
precipitei-me à janela
de onde vi
enormes matilhas
com olhos cheios de negra espuma
a espuma invadia a rua
e abraçava os postes, que caíam
cheios de óleo e náusea
engolia as pessoas
que alucinadas
enchiam o ar de berros
depois os cachorros foram embora
eu voltei ao meu chá
e lá fora a solidão
e uma flor quase despercebida
via: http://revistamododeusar.blogspot.com.br/2017/01/henrique-do-valle-1958-1971.html
eu estava fazendo chá
de ervas do campo
e de repente o espanto
tremendo a chaleira
e bombeando medo
larguei as ervas e danado
precipitei-me à janela
de onde vi
enormes matilhas
com olhos cheios de negra espuma
a espuma invadia a rua
e abraçava os postes, que caíam
cheios de óleo e náusea
engolia as pessoas
que alucinadas
enchiam o ar de berros
depois os cachorros foram embora
eu voltei ao meu chá
e lá fora a solidão
e uma flor quase despercebida
via: http://revistamododeusar.blogspot.com.br/2017/01/henrique-do-valle-1958-1971.html
terça-feira, 21 de março de 2017
Autobiografia, de Henrique do Valle
Na hora morta do entardecer
eu recolho meus pedaços
pendurados no arco-íris
E quando a noite desce
eu rolo em meu leito
sonhando um sonho agreste
Depois, de manhã eu me acordo
berrando essa minha puta vida
que passa em brancas nuvens
via Lidia
eu recolho meus pedaços
pendurados no arco-íris
E quando a noite desce
eu rolo em meu leito
sonhando um sonho agreste
Depois, de manhã eu me acordo
berrando essa minha puta vida
que passa em brancas nuvens
via Lidia
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