Quatro horas da manhã estival,
O sono de amor ainda persiste.
Nos arbustos já não mais existe
Noturnos odores de festival.
Lá ao longe, ao sol das Hespérides,
Em seus imensos canteiros
Já se movem — em mangas de camisa —
Os Carpinteiros.
Em seus Desertos de espuma, tranqüilos
Preparam preciosas molduras
Onde a cidade
Pintará céus de impostura.
Ó, por estes Obreiros fascinantes
Quem um rei de Babilônia têm atados,
Vênus! Abandona teus amantes
cujos espíritos tens escravizados.
A todos eles, Rainha dos Pastores,
a aguardente tens de levar
Que estejam mansos os trabalhadores
Quando ao meio-dia se banhem no mar.
(Fonte: http://www.jornaleco.net/Rimbaud/temporada.htm)
sábado, 18 de junho de 2011
Bonne pensée du matin, de Artur Rimbaud
À quatre heures du matin, l'été,
Le sommeil d'amour dure encore.
Sous les bocages s'évapore
L'odeur du soir fêté.
Là-bas, dans leur vaste chantier,
Au soleil des Hespérides,
Déjà s'agitent - en bras de chemise -
Les Charpentiers.
Dans leurs Déserts de mousse, tranquilles,
Ils préparent les lambris précieux
Où la ville
Peindra de faux cieux
O, pour ces Ouvriers charmants
Sujets d'un roi de Babylone,
Vénus ! quitte un instant les Amants
Dont l'âme est en couronne.
O Reine des Bergers,
Porte aux travailleurs l'eau-de-vie,
Que leurs forces soient en paix
En attendant le bain dans la mer à midi
(Essas cinco estrofes são um trecho de um grupo de poesias que se chama "Alchimie du Verbe" em Délires II
sexta-feira, 17 de junho de 2011
trechos de Roosevelt Depois da Posse, (em Cartas do Yage, de Ginsberg e Burroughs)
"Um drag queen, conhecida como 'Eddie a Dama', encabeçou a Comissão de Energia Nuclear e convocou os físicos para um coral masculino que se apresentava como 'Os Garotos Atômicos'."
"Uma travesti gostosona recebeu o posto de bibliotecária do Congresso. Imediatamente mandou barrar o sexo masculino das premissas - um professor de filologia de renome mundial saiu com o maxilar quebrado por uma sapatão brutamondes quando tentou entrar na biblioteca. A biblioteca virou local de orgias lésbicas, que ela chamou de Ritual das Virgens Vestais."
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Não: não digas nada!, por Fernando Pessoa
Não: não digas nada!
Supor o que dirá
A tua boca velada
É ouvi-lo já
É ouvi-lo melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das frases e dos dias.
És melhor do que tu.
Não digas nada: sê!
Graça do corpo nu
Que invisível se vê.
Supor o que dirá
A tua boca velada
É ouvi-lo já
É ouvi-lo melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das frases e dos dias.
És melhor do que tu.
Não digas nada: sê!
Graça do corpo nu
Que invisível se vê.
Há doenças piores que as doenças, por Fernando Pessoa
Há doenças piores que as doenças,
Há dores que não doem, nem na alma
Mas que são dolorosas mais que as outras.
Há angústias sonhadas mais reais
Que as que a vida nos traz, há sensações
Sentidas só com imaginá-las
Que são mais nossas do que a própria vida.
Há tanta cousa que, sem existir,
Existe, existe demoradamente,
E demoradamente é nossa e nós...
Por sobre o verde turvo do amplo rio
Os circunflexos brancos das gaivotas...
Por sobre a alma o adejar inútil
Do que não foi, nem pôde ser, e é tudo.
Dá-me mais vinho, porque a vida é nada.
sexta-feira, 10 de junho de 2011
trecho do capítulo 66 de O Jogo da Amarelinha, de Julio Cortázar
A página contém uma só frase: "No fundo, já sabia que não se pode ir mais além, porque não existe." A frase repete-se ao longo de toda a página, dando a impressão de um muro, de um impedimento. Não tem pontos, nem vírgulas, nem margens. Trata-se, de fato, de um muro de palavras ilustrando o sentido da frase, o choque contra uma barreira por trás da qual nada existe. Todavia, embaixo, à direita, numa das frases, falta a palavra "existe", um olho sensível depressa pode descobrir o vazio entre os ladrilhos, a luz que passa.
quinta-feira, 9 de junho de 2011
trecho do capítulo 65 de O Jogo da Amarelinha, de Julio Cortázar
Tendências a se vestir de de preto, de cinza, de pardo. Nunca foi visto com um terno completo. Há quem diga que tem três, mas que combina, invariavelmente, as calças de um com o paletó de outro. Não seria difícil verificar isso.
quarta-feira, 8 de junho de 2011
He Wishes for the Cloths of Heaven, de W.B. Yeats
Had I the heavens' embroidered cloths,
Enwrought with the golden and silver light,
The blue and the dim and the dark cloths
Of night and light and half-light,
I would spread the cloths under your feet
But I, being poor, have only my dreams;
I have spread my dreams beneath your feet;
Tread softly because you tread on my dreams...
Enwrought with the golden and silver light,
The blue and the dim and the dark cloths
Of night and light and half-light,
I would spread the cloths under your feet
But I, being poor, have only my dreams;
I have spread my dreams beneath your feet;
Tread softly because you tread on my dreams...
sexta-feira, 3 de junho de 2011
dois trechos de: Duas notas, segunda nota: A arte de injuriar, HISTÓRIA DA ETERNIDADE, J L Borges
Cabe aqui certa réplica varonil a que alude De Quincey (Writings, tomo XI, p. 226). Numa discussão teológica ou literária, lançaram um copo de vinho ao rosto de um cavalheiro. O agredido não se alterou e disse ao ofensor: "Isto, senhor, é uma digressão; aguardo seu argumento". (O protagonista dessa réplica, um tal doutor Henderson, faleceu em Oxford por volta de 1787, sem deixar-nos nenhuma lembrança a não ser essas exatas palavras: suficiente e bela imortalidade.)
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Vinte e cinco pauzinhos
Tem uma cadeira.
Queres que a quebre
Nas tuas costelas?
(uma quadra da Andaluzia)
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