astrologs
sinais de leite no degrau de estrelas
passos predestinados
seu bazar beneficente
de corações amorfos
escaladas de mãos dadas
com espíritos na aclimação
dorme debaixo de astros grávidos
barulho de chuva em pesadas
enteléquias no rolê
sua boca selvagem forma
sortilégios primitivos
há desastres abertos
nas costelas rachadas
da catedral da sé
e a rua fecha os olhos como nosso amor
///////+//////
kiss me deadly
você diz: da mente rachada jorra o arco-íris
amor, palavras não vão salvar sua alma
(mas seus olhos são os relâmpagos
mais bonitos no céu apocalíptico
de são paulo)
ei, você não sabia
que estamos nadando no abismo?
que estamos fabricando mortes?
que estamos escondidos em teatros
de sonho elétrico?
que somos só bichos hipnotizados por
palavras
cometendo todos os dias os mesmos crimes
hoje choveu e lembrei que temos fogo por dentro
a vida não volta
e isso se chama liberdade
você diz: a dor da diferença
(é a felicidade das coisas
aí é quando sinto que vou acordar
meu cérebro é um monstro de 100 milhões de anos
deitado na cama
é uma língua mais velha que a gramática
e todas as palavras só formam constelações de loucuras
que chamamos mentiras
mas agora é quase meia noite
e as luzes da cidade já se enfiam
no silêncio do mundo
você diz: nós somos vida após a morte
você diz: foi um soco no escuro que te fez cair aqui
você diz: há um ruído pesado nestes sonhos
foi quando
via: https://escamandro.wordpress.com/2019/04/21/raphael-sassaki/
terça-feira, 23 de abril de 2019
VÍNCULO, de Júlia de Carvalho Hansen
Vem por baixo da base a tua presença.
A tua presença me ativa a kundalini
alcançando a elevada onisciência
de uma cota quente
até a lombar pulsando.
Eu te sinto como um reforço
caído do céu pra me ajudar a ser quem sou.
Eu poderia me esforçar e te chamar de verão
mas você é a magia do vento combinado com o calor
rangendo o zinco dos telhados velhos desse bairro.
É o anjo de fogo que você desata em mim
o gatilho é o incêndio seu olhar, a vespa
zunindo em cima do capim.
O corpo todo intencionado
arrepio na coluna ondulando
pra dentro do casulo
só consegui me acalmar o suficiente
escrevendo 30 páginas
na primeira pessoa do plural
que se enrola de muitos modos
e se atém a tantos
nós.
via: facebook da autora
A tua presença me ativa a kundalini
alcançando a elevada onisciência
de uma cota quente
até a lombar pulsando.
Eu te sinto como um reforço
caído do céu pra me ajudar a ser quem sou.
Eu poderia me esforçar e te chamar de verão
mas você é a magia do vento combinado com o calor
rangendo o zinco dos telhados velhos desse bairro.
É o anjo de fogo que você desata em mim
o gatilho é o incêndio seu olhar, a vespa
zunindo em cima do capim.
O corpo todo intencionado
arrepio na coluna ondulando
pra dentro do casulo
só consegui me acalmar o suficiente
escrevendo 30 páginas
na primeira pessoa do plural
que se enrola de muitos modos
e se atém a tantos
nós.
via: facebook da autora
domingo, 21 de abril de 2019
Poema dum Funcionário Cansado, de António Ramos Rosa
A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos,
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Porque não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Porque me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço?
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo uma noite só comprida
num quarto só
via: Arthur Moura Campos
[não quero ter você], de Rupi Kaur
não quero ter você
para preencher minhas partes
vazias
quero ser plena sozinha
quero ser tão completa
que poderia iluminar a cidade
e só aí
quero ter você
porque nós dois juntos
botamos fogo em tudo
In: “Outros jeitos de usar a boca”, p. 59
via Kamilly
para preencher minhas partes
vazias
quero ser plena sozinha
quero ser tão completa
que poderia iluminar a cidade
e só aí
quero ter você
porque nós dois juntos
botamos fogo em tudo
In: “Outros jeitos de usar a boca”, p. 59
via Kamilly
[se humanos fossem insetos], de Janaina Tokitaka
se humanos fossem insetos
não tenho dúvidas que seríamos
o besouro rola-esterco
arrastando eternamente
uma meticulosa esfera
moldada a partir de restos
do livro Pequenas armaduras
via Maria Luiza Rodrigues Souza
não tenho dúvidas que seríamos
o besouro rola-esterco
arrastando eternamente
uma meticulosa esfera
moldada a partir de restos
do livro Pequenas armaduras
via Maria Luiza Rodrigues Souza
trecho de Donne,"O Êxtase", tradução de Augusto de Campos
“But as all several souls contain
Mixture of things, they know not what,
Love, these mixed souls, doth mix again,
And makes both one, each this and that”.
“Mas assim como as almas são misturas
Ignoradas, o amor reamalgama
A misturada alma de quem ama,
Compondo duas numa e uma em duas”.
in: Donne, Augusto de Campos e a tradução criativa
de Ana Helena Souza
Mixture of things, they know not what,
Love, these mixed souls, doth mix again,
And makes both one, each this and that”.
“Mas assim como as almas são misturas
Ignoradas, o amor reamalgama
A misturada alma de quem ama,
Compondo duas numa e uma em duas”.
in: Donne, Augusto de Campos e a tradução criativa
de Ana Helena Souza
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