sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

I have not lain with beauty all my life, Lawrence Ferlinghetti, tradução de Eduardo Bueno

I have not lain with beauty all my life
telling over to myself
its most rife charms

I have not lain with beauty all my life
and lied with it as well
telling over to myself
how beauty never dies
but lies apart
among the aborigines
of art
and far above the battlefields
of love

It is above all that
oh yes
It sits upon the choicest of
Church seats
up there where art directors meet
to choose the things for immortality
And they have lain with beauty
all their lives
And they have fed on honeydew
and drunk the wines of Paradise
so that they know exactly how
a thing of beauty is a joy
forever and forever
and how it never never
quite can fade
into a money-losing nothingness

Oh no I have not lain
on Beauty Rests like this
afraid to rise at night
for fear that I might somehow miss
some movement beauty might have made

Yet I have slept with beauty
in my own weird way
and I have made a hungry scene or two
with beauty in my bed
and so spilled out another poem or two
and so spilled out another poem or two
upon the Bosch-like world
fonte: http://www.readin.com/blog/?k=book:author:ferlinghetti&o=a


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Em toda a minha vida jamais deitei com a beleza
                          confidenciando a mim mesmo
                                         seus encantos exuberantes

Jamais deitei com a beleza em toda a minha vida
                                           e tampouco menti junto a ela
                          confidenciando a mim mesmo
                                    como a beleza jamais morre
                          mas jaz afastada
                                    entre os aborígenes
                                                                      da arte
                    e paira muito acima dos campos de batalha
                                                                       do amor

                          Ela está acima disto tudo
                                           oh sim
         Está sentada no mais seleto dos
                                                            bancos do templo
lá onde os diretores de arte encontram-se
para escolher o que há de ficar eterno
                              E eles sim deitaram-se com a beleza
                    suas vidas inteiras
                                      E deliciaram-se com a ambrosia
         e sorveram os vinhos do Paraíso
                                            Portanto sabem com precisão
        como algo belo é uma jóia
                           rara rara
                                         e como nunca nunca
          poderá desvanecer-se
                                      num investimento sem tostão
Oh não jamais deitei
                          em Regaços da Beleza como esses
         receoso de levantar-me à noite
                           com medo de perder de alguma forma
algum movimento que a beleza pudesse esboçar

         No entanto dormi com a beleza
                              da minha própria e bizarra maneira
e aprontei uma ou duas cenas muito loucas
                                       com a beleza em minha cama
e daí transbordou um poema ou dois
        e daí transbordou um poema ou dois
                        para esse mundo que parece o de Bosch

fonte: http://www.culturapara.art.br/opoema/lawrenceferlinghetti/ferlinghetti.html

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Uma espécie de perda, de Ingeborg Bachmann, duas traduções

Usámos a dois: estações do ano, livros e uma música.
As chaves, as taças de chá, o cesto do pão, lençóis de linho e uma
cama.
Um enxoval de palavras, de gestos, trazidos, utilizados,
gastos.
Cumprimos o regulamento de um prédio. Dissemos. Fizemos.
E estendemos sempre a mão.

Apaixonei-me por Invernos, por um septeto vienense e por
Verões.
Por mapas, por um ninho de montanha, uma praia e uma
cama.
Ritualizei datas, declarei promessas irrevogáveis,
idolatrei o indefinido e senti devoção perante um nada,

(- o jornal dobrado, a cinza fria, o papel com um aponta-
mento)
sem temores religiosos, pois a igreja era esta cama.

De olhar o mar nasceu a minha pintura inesgotável.
Da varanda podia saudar os povos, meus vizinhos.
Ao fogo da lareira, em segurança, o meu cabelo tinha a sua cor
mais intensa.
A campainha da porta era o alarme da minha alegria.

Não te perdi a ti,
perdi o mundo.

tradução de Judite Berkemeier e João Barrento

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De uso comum: estações do ano, livros e uma música.
As chaves, as xícaras de chá, a cesta de pão, lençóis de linho e uma cama.
Um enxoval de palavras, de gestos, trazidos, utilizados, gastos.
Uma ordem doméstica respeitada. Dito. Feito. E sempre a mão estendida.
Apaixonei-me por invernos, por um septeto vienense e por verões.
Por mapas, por um canto na montanha, por uma praia e por uma cama.
Mantive um culto a datas, declarei promessas irrevogáveis,
idolatrei um algo e fui devota de um nada,

(- do jornal dobrado, das cinzas frias, do papel com uma anotação)
sem temer a religião, pois a igreja era essa cama.

Minha inesgotável pintura surgiu de olhar o mar.
Da varanda saudava os povos, meus vizinhos.
Ao fogo da lareira, em segurança, meus cabelos tinham sua cor mais intensa.
A campainha da porta era o alarme para minha alegria.

Não foste tu que perdi,
mas o mundo.

tradução de Claudia Cavalcanti

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

From the House of Yemanjá, de Audre Lorde, tradução de Thamires Zabotto

From the House of Yemanjá

My mother had two faces and a frying pot  
where she cooked up her daughters
into girls
before she fixed our dinner.
My mother had two faces
and a broken pot
where she hid out a perfect daughter  
who was not me
I am the sun and moon and forever hungry  
for her eyes.

I bear two women upon my back
one dark and rich and hidden
in the ivory hungers of the other mother
pale as a witch
yet steady and familiar
brings me bread and terror
in my sleep
her breasts are huge exciting anchors  
in the midnight storm.
All this has been
before
in my mother’s bed
time has no sense
I have no brothers
and my sisters are cruel.
Mother I need
mother I need
mother I need your blackness now  
as the august earth needs rain.  
I am
the sun and moon and forever hungry  
the sharpened edge
where day and night shall meet
and not be
one.



Da casa de Iemanjá

Minha mãe tinha duas faces e uma frigideira
onde ela cozinhava suas filhas
para serem garotas
antes de fazer nossa janta.
Minha mãe tinha duas faces
e uma panela quebrada
onde escondeu a filha perfeita
que não era eu
Eu sou o sol e a lua e para sempre faminta
de seus olhos.

Carrego duas mulheres nas minhas costas
uma negra e rica e escondida
nas fomes ebúrneas da outra
mãe
pálida como uma bruxa
mas estável e familiar
me traz pão e terror
no meu sono
seus seios são enormes fascinantes âncoras
na tempestade da meia-noite.

Tudo isto foi
antes
na cama da minha mãe
o tempo não tem sentido
não tenho irmãos
e minhas irmãs são cruéis.

Mãe eu preciso
mãe eu preciso
mãe eu preciso de sua negritude agora
como a terra de agosto precisa de chuva.
Eu sou

o sol e a lua e para sempre faminta
a faca aguçada
onde dia e noite se encontrarão
e não serão
um.




fonte: https://escamandro.wordpress.com/2015/01/14/a-invocacao-dos-orixas-na-poesia-de-audre-lorde-por-thamires-zabotto/

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

A Drinking Song de W. B. Yeats

Wine comes in at the mouth
And love comes in at the eye;
That’s all we shall know for truth
Before we grow old and die.
I lift the glass to my mouth,
I look at you, and I sigh