retesar a corda vocal
sob um eixo de 440 hertz
sistematicamente
desafi(n)ar
afiar a fio de faca
o v da seta-verbo
untar a flecha
em ervas da mata
erva que cura
erva que mata
depois de de-
cantar: atirar ao ar
ferir os ouvidos
tim tim por tim tímpano
via: http://www.mallarmargens.com/2013/10/poemas-com-boca-por-leo-goncalves.html
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retendre la corde vocale
sur un axe de 440 hertz
systématiquement
(d)étonner
et noter à la pointe du couteau
le v de la flèche-verbe
oindre la flèche
d’herbes sauvages
herbe qui soigne
herbe qui tue
après qu’on a dé-
chanté : lancer en l’air
percer les oreilles
œil pour œil temps pour tambour
via: http://www.salamalandro.redezero.org/retendre-la-corde-vocale-anthologie-de-la-poesie-bresilienne-vivante/
terça-feira, 22 de agosto de 2017
Segunda Rua Cristina, de Apollinaire
A mãe da zeladora e sua filha vão liberar o caminho
Vem comigo essa noite se você for homem
Um só já é bastante para que vigie a porta
Enquanto o outro sobe a escada
Três lamparinas iluminam
A velha está no fim
Quando você terminar vamos jogar um gamão
O maestro com dor-de-garganta
Chegando na Tunísia pinte pra fumar um haxixe
Vixe quase rimou
Pilhas de pires flores um calendário
Pim pam pim
Devo quase 300 paus pra locatária
Prefiro cortar o meu que dar pra ela tá ligado
Caio fora às 8 e 27
Seis espelhos ficam se encarando
Tô achando é que nos metemos numa fria
Caríssimo senhor
Tu é mesmo um bosta
O nariz daquela moça parece um verme
A Luiza esqueceu o casaco
Não tenho casaco mas também não tenho frio
O dinamarquês fuma seu charo enquanto checa os horários
O gato preto cruza o restaurante
Os crepes-suzettes estavam demais
Fonte verte
Vestido negro como suas unhas
Isso é completamente impossível
Aqui está senhor
O anel de malaquita
Chão coberto de serragem
Então é verdade
A garçonete ruiva se mandou com o livreiro
Um jornalista que conheço mais ou menos
Olha Jaques é extremamente sério o que vou te contar
Companhia de navegação mista
Ele diz o senhor gostaria de dar uma olhada no que eu pinto
Eu só tenho uma criada
Depois do almoço Café Luxemburgo
Chegando lá me apresenta um gordão
Que diz pra mim
Escute isso seria chique
Em Smyrna em Nápoles na Tunísia
Meus Deus do céu quando é que estive
Pela última vez na China
Deve fazer o quê uns oito ou nove anos
Honra é um troço que depende da hora
Bati
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes
via: http://estudiorealidade.blogspot.com.br/2006/11/segunda-rua-cristina-de-guillaume.html
Vem comigo essa noite se você for homem
Um só já é bastante para que vigie a porta
Enquanto o outro sobe a escada
Três lamparinas iluminam
A velha está no fim
Quando você terminar vamos jogar um gamão
O maestro com dor-de-garganta
Chegando na Tunísia pinte pra fumar um haxixe
Vixe quase rimou
Pilhas de pires flores um calendário
Pim pam pim
Devo quase 300 paus pra locatária
Prefiro cortar o meu que dar pra ela tá ligado
Caio fora às 8 e 27
Seis espelhos ficam se encarando
Tô achando é que nos metemos numa fria
Caríssimo senhor
Tu é mesmo um bosta
O nariz daquela moça parece um verme
A Luiza esqueceu o casaco
Não tenho casaco mas também não tenho frio
O dinamarquês fuma seu charo enquanto checa os horários
O gato preto cruza o restaurante
Os crepes-suzettes estavam demais
Fonte verte
Vestido negro como suas unhas
Isso é completamente impossível
Aqui está senhor
O anel de malaquita
Chão coberto de serragem
Então é verdade
A garçonete ruiva se mandou com o livreiro
Um jornalista que conheço mais ou menos
Olha Jaques é extremamente sério o que vou te contar
Companhia de navegação mista
Ele diz o senhor gostaria de dar uma olhada no que eu pinto
Eu só tenho uma criada
Depois do almoço Café Luxemburgo
Chegando lá me apresenta um gordão
Que diz pra mim
Escute isso seria chique
Em Smyrna em Nápoles na Tunísia
Meus Deus do céu quando é que estive
Pela última vez na China
Deve fazer o quê uns oito ou nove anos
Honra é um troço que depende da hora
Bati
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes
via: http://estudiorealidade.blogspot.com.br/2006/11/segunda-rua-cristina-de-guillaume.html
segunda-feira, 7 de agosto de 2017
Testemunho, de Paul Auster
No trigo alto do inverno
que nos levou através
dessa terra de ninguém,
nas cópulas de nossa raiva
sob essas ervas brancas sem nome,
e por hospedar, perpetuamente,
uma flor no inferno, falarei a você
do abrir de meu olho
para além do ser,
de meu ser além do ser
só alguém,
e como poderia absolvê-la
desse segredo, e provar pra você
que não estou mais só,
que não estou
nem mesmo perto
de mim.
(Tradução: Rodrigo Garcia Lopes)
via: http://estudiorealidade.blogspot.com.br/2006/09/testemunho-poema-de-paul-auster.html
que nos levou através
dessa terra de ninguém,
nas cópulas de nossa raiva
sob essas ervas brancas sem nome,
e por hospedar, perpetuamente,
uma flor no inferno, falarei a você
do abrir de meu olho
para além do ser,
de meu ser além do ser
só alguém,
e como poderia absolvê-la
desse segredo, e provar pra você
que não estou mais só,
que não estou
nem mesmo perto
de mim.
(Tradução: Rodrigo Garcia Lopes)
via: http://estudiorealidade.blogspot.com.br/2006/09/testemunho-poema-de-paul-auster.html
AUTO-RETRATO ÀS DUAS HORAS DA MANHÃ, dia 29 de agosto, 1959, de Heiner Müller
Sentado em frente à máquina de escrever. Folheando
uma história de detetive. Perto do final
Descobri o que você já sabia;
A secretária de face macia e de barbas imensas
É a assassina do senador
E o amor do jovem sargento membro da comissão de homicídio
Pela filha do almirante será recíproco.
Mas você não vai omitir nem uma página.
Às vezes enquanto vira a folha você lança um rápido olhar
Sobre a página em branco na máquina de escrever.
Quer dizer que evitaremos isso. Pelo menos isso.
No jornal: em algum lugar uma cidade foi
Arrasada por bombas e reduzida a ruínas.
Que mal, mas o que posso fazer por vocês.
O sargento está prestes a evitar um segundo assassinato
Embora a filha do almirante ofereça (pela primeira vez!)
Seus lábios pra ele, negócio é negócio.
Você fica sem saber quantos morreram, o jornal sumiu.
No quarto ao lado sua esposa sonha com seu primeiro amor.
Ontem ela tentou se enforcar. Amanhã
Vai cortar os pulsos ou sei lá o quê.
Pelo menos ela tem um objetivo em mente
E ela vai chegar lá, de um jeito ou de outro.
E o coração é um cemitério espaçoso.
A história de Fátima no Notícias da Alemanha
Estava tão mal escrita que eu cai no riso.
É mais fácil entender a tortura que a descrição da tortura.
A assassina caiu na armadilha
E o sargento abraça sua recompensa,
Sabendo que agora você já pode dormir. Amanhã é um outro dia.
(Tradução: Rodrigo Garcia Lopes, com a colaboração de Simone Homem de Mello)
via: http://estudiorealidade.blogspot.com.br/2006/09/auto-retrato-s-duas-horas-da-manh-dia.html
uma história de detetive. Perto do final
Descobri o que você já sabia;
A secretária de face macia e de barbas imensas
É a assassina do senador
E o amor do jovem sargento membro da comissão de homicídio
Pela filha do almirante será recíproco.
Mas você não vai omitir nem uma página.
Às vezes enquanto vira a folha você lança um rápido olhar
Sobre a página em branco na máquina de escrever.
Quer dizer que evitaremos isso. Pelo menos isso.
No jornal: em algum lugar uma cidade foi
Arrasada por bombas e reduzida a ruínas.
Que mal, mas o que posso fazer por vocês.
O sargento está prestes a evitar um segundo assassinato
Embora a filha do almirante ofereça (pela primeira vez!)
Seus lábios pra ele, negócio é negócio.
Você fica sem saber quantos morreram, o jornal sumiu.
No quarto ao lado sua esposa sonha com seu primeiro amor.
Ontem ela tentou se enforcar. Amanhã
Vai cortar os pulsos ou sei lá o quê.
Pelo menos ela tem um objetivo em mente
E ela vai chegar lá, de um jeito ou de outro.
E o coração é um cemitério espaçoso.
A história de Fátima no Notícias da Alemanha
Estava tão mal escrita que eu cai no riso.
É mais fácil entender a tortura que a descrição da tortura.
A assassina caiu na armadilha
E o sargento abraça sua recompensa,
Sabendo que agora você já pode dormir. Amanhã é um outro dia.
(Tradução: Rodrigo Garcia Lopes, com a colaboração de Simone Homem de Mello)
via: http://estudiorealidade.blogspot.com.br/2006/09/auto-retrato-s-duas-horas-da-manh-dia.html
LANA TURNER DESMAIOU!, de Frank O. Hara
Lana Turner desmaiou!
eu trotava pela rua e de repente
começou a chover e a nevar
e você falou que era granizo
mas granizo machuca a cabeça
essa era neve mesmo
e chovia e eu morrendo de pressa
pra te encontrar mas o trânsito
se comportava mal como o céu
e de repente vejo a manchete
LANA TURNER DESMAIOU!
nenhuma neve em Hollywood
nenhuma chuva na Califórnia
já fui num monte de festas
e já dei cada baixaria
mas nunca desmaiei pra valer
ah Lana a gente te ama levanta mulher
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes
via: http://estudiorealidade.blogspot.com.br/2017/06/lana-turner-desmaiou-de-frank-ohara.html
eu trotava pela rua e de repente
começou a chover e a nevar
e você falou que era granizo
mas granizo machuca a cabeça
essa era neve mesmo
e chovia e eu morrendo de pressa
pra te encontrar mas o trânsito
se comportava mal como o céu
e de repente vejo a manchete
LANA TURNER DESMAIOU!
nenhuma neve em Hollywood
nenhuma chuva na Califórnia
já fui num monte de festas
e já dei cada baixaria
mas nunca desmaiei pra valer
ah Lana a gente te ama levanta mulher
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes
via: http://estudiorealidade.blogspot.com.br/2017/06/lana-turner-desmaiou-de-frank-ohara.html
Medo e o Macaco, de William S. Burroughs
Coceira irritante e o perfume da morte
No sussurrante vento sul
Cheiro de abismo e nada
O Anjo Vil dos vagabundos uiva pelo apartamento
Como um sono cheirando a doença
Sonho matutino de um macaco perdido
Nascido e sufocado por velhas fantasias
Com pétalas de rosa em frascos fechados
Medo e o macaco
Gosto amargo de fruta verde ao amanhecer
O ar lácteo e picante da brisa marinha
Carne branca denuncia
Teus jeans tão desbotados
Perna sob sombras do mar
Luz da manhã
No néon celeste de um armazém
No cheiro do vinho barato no bairro dos marujos
Na fonte soluçante do patío da polícia
Na estátua de pedra embolorada
No molequinho assobiando para vira-latas.
Vagabundos agarram suas casa imaginárias
Um trem perdido apita vago e abafado
No apartamento noite gosto d'água
Luz da manhã em carne láctea
Coceira irritante mão fantasma
Triste como a morte dos macacos
Teu pai uma estrela cadente
Osso de cristal no ar fino
Céu noturno
Dispersão e vazio.
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça
via: http://estudiorealidade.blogspot.com.br/2006/09/medo-e-o-macaco-poema-de-william-s_14.html
No sussurrante vento sul
Cheiro de abismo e nada
O Anjo Vil dos vagabundos uiva pelo apartamento
Como um sono cheirando a doença
Sonho matutino de um macaco perdido
Nascido e sufocado por velhas fantasias
Com pétalas de rosa em frascos fechados
Medo e o macaco
Gosto amargo de fruta verde ao amanhecer
O ar lácteo e picante da brisa marinha
Carne branca denuncia
Teus jeans tão desbotados
Perna sob sombras do mar
Luz da manhã
No néon celeste de um armazém
No cheiro do vinho barato no bairro dos marujos
Na fonte soluçante do patío da polícia
Na estátua de pedra embolorada
No molequinho assobiando para vira-latas.
Vagabundos agarram suas casa imaginárias
Um trem perdido apita vago e abafado
No apartamento noite gosto d'água
Luz da manhã em carne láctea
Coceira irritante mão fantasma
Triste como a morte dos macacos
Teu pai uma estrela cadente
Osso de cristal no ar fino
Céu noturno
Dispersão e vazio.
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça
via: http://estudiorealidade.blogspot.com.br/2006/09/medo-e-o-macaco-poema-de-william-s_14.html
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