Numa entrevista Anne Carson diz que
se a prosa é uma casa
a poesia é um homem em chamas
correndo rapidamente através dela
numa entrevista, quando lhe perguntaram
o que salvaria
se sua casa pegasse fogo
Jean Cocteau respondeu
que salvaria o fogo
no protocolo de incêndio
do condomínio do edifício JK
está escrito
não fique parado na janela sem nenhuma defesa
o fogo procura espaço para queimar
e irá buscá-lo se você não estiver protegido
e também: mantenha-se vestido e molhe suas roupas
e também: feche todas as portas atrás de você
e ainda: rasteje para a saída, pois o ar é mais puro
junto ao chão
e ainda: uma vez que tenha conseguido escapar,
não retorne
*
Um caramujo
como uma caixa de fósforos
que levasse nas costas
o incêndio da casa
via: http://piaui.folha.uol.com.br/materia/um-anteparo-contra-os-golpes-do-dia/
terça-feira, 30 de janeiro de 2018
ROSAS, de Júlia de Carvalho Hansen
o amor me esquartejou em seis
continentes incapazes de se conter
o modo que eu morri
foi tão de repente
confesso fui eu que puxei seus dentes
antes e durante o entardecer tem rosas
nítidas e supérfluas sobre a mesa
purificando o meu espírito trôpego
foi-me dado um candeeiro um circo
ateando um chicote no lombo do acidente
eu me antecipo cada vez que vejo um poço
teu vitalício laço de fita nó de corda meu amor
a tua língua vale o que vale
teu ricochete, teus meandros
medos, usuras, os prevenidos
armários das famílias
abertos pelo caos nos guiamos
olhos mais longos que os de lúcifer
moram nas suas coxas
quando me anteveem
marfim, colchão mole
água na boca
no tronco um portão
noite luz
via : https://escamandro.wordpress.com/2017/11/16/6-poemas-ineditos-de-julia-de-carvalho-hansen/
continentes incapazes de se conter
o modo que eu morri
foi tão de repente
confesso fui eu que puxei seus dentes
antes e durante o entardecer tem rosas
nítidas e supérfluas sobre a mesa
purificando o meu espírito trôpego
foi-me dado um candeeiro um circo
ateando um chicote no lombo do acidente
eu me antecipo cada vez que vejo um poço
teu vitalício laço de fita nó de corda meu amor
a tua língua vale o que vale
teu ricochete, teus meandros
medos, usuras, os prevenidos
armários das famílias
abertos pelo caos nos guiamos
olhos mais longos que os de lúcifer
moram nas suas coxas
quando me anteveem
marfim, colchão mole
água na boca
no tronco um portão
noite luz
via : https://escamandro.wordpress.com/2017/11/16/6-poemas-ineditos-de-julia-de-carvalho-hansen/
EU – SOU. VOCÊ – SERÁ. EM VOLTA – VÁCUO, de Marina Tsvetáieva (tradução de Igor Werneck)
EU – SOU. VOCÊ – SERÁ. EM VOLTA – VÁCUO.
[6 de Junho de 1918]
Eu — sou. Você — será. Em volta — vácuo.
Eu farto. Tu sedento. Em falso — trato.
São nossos decênios, como apartados
milenários. — Deus não constrói passagens.
Seja! — rogo em lição. Deixe ir embora
o ar sem sufocar sua inocência.
Eu — sou. Você — será. Em dez invernos
diria: sendo! — Já eu: algum dia...
via: https://revistamododeusar.blogspot.com.br/2017/07/marina-tsvetaeva-em-traducoes-de-igor.html
[6 de Junho de 1918]
Eu — sou. Você — será. Em volta — vácuo.
Eu farto. Tu sedento. Em falso — trato.
São nossos decênios, como apartados
milenários. — Deus não constrói passagens.
Seja! — rogo em lição. Deixe ir embora
o ar sem sufocar sua inocência.
Eu — sou. Você — será. Em dez invernos
diria: sendo! — Já eu: algum dia...
via: https://revistamododeusar.blogspot.com.br/2017/07/marina-tsvetaeva-em-traducoes-de-igor.html
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