sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Meteoro, de Roberto Piva

 Eu direi as palavras mais terríveis esta noite

enquanto os ponteiros se dissolvem

contra o meu poder

contra o meu amor

no sobressalto da minha mente

meus olhos dançam

no alto da Lapa os mosquitos me sufocam

que me importa saber se as mulheres são

férteis se Deus caiu no mar se

Kierkegaard pede socorro numa montanha

da Dinamarca?


os telefones gritam

isoladas criaturas caem no nada

os órgãos de carne falam morte

morte doce carnaval de rua do

fim do mundo

eu não quero elegias mas sim os lírios

de ferro dos recintos

há uma epopéia nas roupas penduradas contra

o céu cinza

e os luminosos me fitam do espaço alucinado

quantos lindos garotos eu não vi sob esta luz?


eu urrava meio louco meio estarrado meio fendido

narcóticos santos ó gato azul da minha mente

Oh Antonin Artaud

Oh Garcia Lorca

com seus olhos de aborto reduzidos

a retratos


almas

almas

como icebergs

como velas

como manequins mecânicos

e o clímax fraudulento dos sanduíches almoços

sorvetes controles ansiedades

eu preciso cortar os cabelos da minha alma

eu preciso tomar colheradas de

Morte Absoluta

eu não enxergo mais nada

meu crânio diz que estou embriagado

suplícios genuflexões neuroses

psicanalistas espetando meu pobre

esqueleto em férias


eu apertava uma árvore contra meu peito

como se fosse um anjo

meus amores começam crescer

passam cadillacs sem sangue os helicópteros

mugem

minha alma minha canção bolsos abertos

da minha mente

eu sou uma alucinação na ponta de teus olhos


,

via Abigail no feice, nesse dia, em 2017

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