quinta-feira, 20 de maio de 2021

Manifesto Populista, de Lawrence Ferlinghetti, tradução de Leonardo de Magalhaens

Poetas! Dêem o fora de seus gabinetes,

abram suas janelas, abram suas portas,

vocês já ficaram muito tempo no fundo

de seus mundos fechados.

Venham, desçam

de suas Colinas Russas e Colinas Telegráficas,

suas Colinas do Farol e suas Colinas da Capela,

seus Montes Analógicos e Montes Parnasos,

desçam de suas colinas e montanhas,

fora de suas tendas e domos.

As árvores são derrubadas

e nós não voltaremos para as florestas.

Não há tempo para ficar sentado

quando o homem queima sua própria casa

para assar seu porco

Nada de cantar Hare Khrishna

enquanto Roma queima.

San Francisco está queimando,

a Moscou de Maiakovski está queimando

os combustíveis-fósseis da vida.

Noite e o Cavalo aproximam-se

devorando luz, calor e poder,

e as nuvens têm calças.

Não há tempo para o artista se esconder

acima, além, debaixo dos cenários,

indiferente, aparando suas unhas,

refinando-se fora da existência.

Não há tempo para os nossos joguinhos literários,

não há tempo para nossas paranóias e hipocondrias,

não há tempo para medo e náusea,

há tempo somente para luz e amor.

Temos sido as melhores mentes de nossa geração

destruídas pelo tédio das leituras poéticas.

Poesia não é uma sociedade secreta,

muito menos um templo.

Palavras secretas e cânticos não interessam.

A hora de profetizar já passou,

o tempo de entusiasmo chegou,

um tempo para entusiasmo e alegria

sobre o vindouro final

da civilização industrial

que é péssima para a Terra e o Homem.

É hora de olhar pra fora

na completa posição de lótus

com olhos bem abertos,

É hora de abrir suas bocas

com um novo discurso aberto,

É hora de comunicar com todos os seres sensíveis,

Todos vocês ‘Poetas das Cidades’

pendurados em museus incluindo a mim mesmo,

Todos vocês poetas de poetas escrevendo poesia

sobre poesia,

Todos vocês poetas de oficinas de poesia

no coração farrista da América

Todos vocês arrombados Ezra Pounds

Todos vocês remotos estanhos excluídos poetas,

Todos vocês estressados poetas do Concreto,

Todos vocês poetas lambedores-de-cu,

Todos vocês poetas de toilete gemendo com grafite,

Todos vocês gigantes de trem classe A que nunca gingam

em vasos de plantas

Todos vocês da serraria nas Sibérias da América,

Todos vocês irrealistas sem-olhos,

Todos vocês auto-ocultados supersurrealistas,

Todos vocês visionários de quarto e agitadores-propagandistas

de gabinete,

Todos vocês poetas Groucho Marxistas

e camaradas da classe-desocupada

que descansam o dia todo e discutem sobre o proletariado,

todos vocês católicos anarquistas da poesia,

Todos vocês Black Montanhistas da poesia,

Todos vocês bucólicos Brahims e Bolinas de Boston,

Todos vocês mães-reclusas da poesia,

Todos vocês irmãos-zen da poesia,

Todos vocês amantes suicidas da poesia,

Todos vocês cabeludos professores da poesia,

Todos vocês resenhistas de poesia

bebendo o sangue do poeta,

Todos vocês Polícia da Poesia –

Onde estão as selvagens crianças de Whitman,

onde as grandiosas vozes se expressam

com um sentido de doçura e sublimidade,

onde a grandiosa nova visão,

a grandiosa visão-mundial,

a elevada canção profética

da imensa terra

e tudo o que canta nela

e nossa relações com ela ?

Poetas, desçam

para as ruas do mundo outra vez

E abram suas mentes e olhos

com o antigo deleite visual,

limpem suas goelas e falem,

Poesia está morta, vida longa à poesia

com olhos terríveis e força de búfalo.

Não esperem a Revolução

ou que aconteça sem vocês,

Parem de murmurar e falem alto

com uma nova poesia ampla

com um nova comum-sensual ‘superfície pública’

com outros níveis subjetivos

ou outros níveis subversivos,

um afinado garfo no ouvido íntimo

a golpear sob a superfície.

De seus próprios suaves Eus ainda cantam

Ainda completo ‘a palavra em massa’

‘Poesia o comum condutor

para o transporte do público

aos lugares mais elevados

que outras rodas podem conduzir.

Poesia ainda precipita-se dos céus

em nossas ruas ainda livres.

Eles não ergueram as barricadas, ainda,

as ruas ainda vivem com as faces,

amáveis homens e mulheres ainda caminham,

ainda amáveis criaturas por todos os lugares,

nos olhos de todos o segredo de todos

ainda enterrados lá,

as selvagens crianças de Whitman ainda dormem lá,

despertam e caminham livremente.


Em: http://leoleituraescrita.blogspot.com/2009/08/lawrence-ferlinghetti-manifesto.html?m=1

conheci na oficina do poeta Rico Lopes hoje mesmo

poema original em http://www.poemhunter.com/best-poems/lawrence-ferlinghetti/populist-manifesto-no-1/


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