quarta-feira, 7 de julho de 2010

a montanha mágica, de Mann: dois trechos

"Protestou em nome do espírito e da razão contra esse escandaloso excesso da natureza que vitimou três quartas partes de uma florescente cidade e milhares de vidas humanas... O senhor fica pasmado? Sorri? Que pasme, mas, quanto ao sorriso, tomo liberdade de censurá-lo. A atitude de Voltaire era a de um autêntico descendente daqueles antigos gauleses que atiravam as suas flechas contra o céu. (...) Pois a natureza é o poder, e aceitar o poder, conformar-se com ele - repare bem: conformar-se intimamente com ele, é servil!"



"Eu me sentia diferente; era uma sensação totalmente estranha que nunca antes experimentara. Já não foi fácil chegar até em casa, e depois não acreditei nos meus próprios olhos. Tinha as pernas geladas, sabe? Um suor frio por todo o corpo; o rosto branco omo um lençol; o coração com toda espécie de crises; o pulso ora fininho que nem um fio e mal perceptível, ora galopando a rédea solta; compreende? E o cérebro numa agitação louca... Eu tinha certeza de que dançava minha última dança. Falo em dança, porque é o termo que então me ocorreu, e que empreguei, falando com meus botões, para caracterizar o meu estado. Pois, no fundo, achei a coisa formidável; pareceu-me uma verdadeira festa, embora eu tivesse um medo terrível. Mais exatamente, eu era todo medo, dos pés à cabeça. Olhe, o medo e a alegria não se excluem, como todo o mundo sabe. Um rapaz que está a ponto de possuir pela primeira vez uma garota, também treme de medo, e ela não menos. E todavia se desmancham de prazer."

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