(extraído de Poemas Em Prosa)
O Discípulo
Quando Narciso morreu, a taça de água doce que era o lago dos seus prazeres, converteu-se em taça de lágrimas amargas e as Oréadas vieram carpindo pelos bosques a fim de cantar para ele, consolando-o.
E, quando perceberam que o lago se transmudara de taça de água doce noutra de lágrimas amargas, desgrenharam as tranças verdes dos seus cabelos e disseram:
_Não nos admiramos que pranteeis Narciso dessa maneira. Ele era tão belo!
_Narciso era belo? - indagou o lago.
_Quem o sabe melhor do que vós? - responderam as Oréadas. Ao cortejar-vos, ele nos desprezava debruçado às vossas margens mirando-vos, e, no espelho de vossas águas, contemplava a própria beleza.
E o lago retrucou:
_Eu amava Narciso porque, quando ele se debruçava sobre as minhas margens para contemplar-me, eu via sempre refletir-se no espelho dos seus olhos a minha própria beleza.
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