terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Hilda Hilst em Poemas aos Homens de nosso tempo

X


Amada vida:


Que essa garra de ferro


Imensa


Que apunhala a palavra


Se afaste


Da boca dos poetas.


PÁSSARO-PALAVRA


LIVRE


VOLÚPIA DE SER ASA


NA MINHA BOCA.


Que essa garra de ferro


Imensa


Que me dilacera


Desapareça


Do ensolarado roteiro


Do poeta.


PÁSSARO-PALAVRA


LIVRE


VOLÚPIA DE SER ASA


NA MINHA BOCA.


Que essa garra de ferro


Calcinada


Se desfaça


Diante da luz


Intensa da palavra.


PALAVRA-LIVRE


Volúpia de ser pássaro


Amada vertiginosa.


Asa.


XI


Se o teu, o meu, nosso do tigre


Se fizesse livre, como seria?


Se convivesses unânime


Como as estrias do dorso


Desse tigre


Convivem com seu todo


Te farias mais garra?


Ou mais crueza? Ou nasceria


Em ti uma outra criatura


Límpida, solar, ígnea?


Tentarias a sorte de saltar


Em direção à Vega, Canópus?


Te chamarias tigre ou Homem?


Homem: reverso da compulsória


Fome do tigre.


Homem: alado e ocre


Pássaro da morte.



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