& nós dançávamos assim: vestidos brancos das mães
que transbordavam nossos pés, o fim de agosto
colorindo as nossas mãos de um rubro escuro. & nos amávamos assim:
com vodka & uma tarde no ático, os teus dedos
entre os meus cabelos — os meus cabelos em fogo. Cobríamos
o ouvido e o chilique do teu pai se transformava
em pulsações. Quando os nossos lábios se tocavam o dia se encerrava
num caixão. No museu do coração
há duas pessoas sem cabeça construindo uma casa em chamas.
A espingarda esteve sempre lá sobre a
lareira. Sempre uma outra hora para matar — só para implorar
a um deus que nos devolva. Senão o ático, o carro. Senão
o carro, o sonho. Senão o menino, as suas roupas. Se não vive,
desligue o telefone. Porque o ano é uma distância
que viajamos em círculos. O que quer dizer: nós dançávamos
assim: sozinhos em corpos que dormem. O que quer dizer:
nós nos amávamos assim: uma faca na língua se transformando
em uma língua.
via: https://www.plural.jor.br/noticias/cultura/tres-poemas-de-ocean-vuong/
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