quinta-feira, 11 de março de 2021

O Divisor, de Edwin Morgan

 Continuo pensando em você - o que é ridículo. 

Estes anos entre nós como um mar.

E a dignidade que veio com o tempo 

impediria meu lápis sobre o papel.

O som estava ligado; você pediu pelos Stones; 

conseguiu, conseguiu café fresco, conversa.

As cortinas cerradas guardavam uma noite selvagem. 

Continuo pensando nos seus olhos, suas mãos.

Não há razão para isto, nenhuma.

Você diria que não posso ser o que não sou, 

mesmo que eu não possa ser o que sou.

Onde isso nos leva? O que podemos fazer?

O silêncio após Jagger foi como uma capa 

que eu teria jogado sobre você - havia apenas 

o vento, e o relógio batia enquanto você bebia, 

agarrando a caneca verde entre as mãos.

Não olhe para cima assim de repente!

Como é duro não olhar você.

Chegamos ao ponto de não falar 

e não se preocupar, e aquilo 

foi quase feliz. Então, mais tarde,

quando você deitou sobre o cotovelo no carpete 

não senti nada além de uma punhalada 

de dor me dizendo o que era, 

e não posso dizer para você, nem uma palavra.


[In Edwin Morgan - Poetas do Mundo, seleção, tradução e introdução de Virna Teixeira, Brasília, Ed. UNB, 2006, pp. 29-31]. 


via: http://www.banquetepoetico.com.br/2013/11/edwin-morgan.html?m=1

Nenhum comentário:

Postar um comentário